sábado, 3 de julho de 2010

DIAS CONTADOS PARA O HPV

Vacina chega este ano e previne 70% dos cânceres de útero e 90% das verrugas genitais. Infectadas também são alvo
EDUARDO NASCIMENTO
Está previsto para este início de ano a chegada ao Brasil de nova arma terapêutica que promete revolucionar o tratamento do HPV (papilomavírus humano) e a prevenção do ainda letal câncer de colo de útero. Trata-se da vacina Gardasil, do laboratório Merck Sharp & Dohme, já disponível nos Estados Unidos e União Européia e aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em agosto passado. Quadrivalente, a vacina previne contra os tipos 6 e 11 do HPV (baixo risco para o câncer), presentes em 90% dos casos de verrugas genitais, e contra os tipos 16 e 18 (alto risco oncogênico), encontrados em 70% dos casos de câncer de colo uterino.

A Gardasil é recomendada para mulheres entre nove e 26 anos, tendo em vista que funciona melhor em pacientes que não iniciaram vida sexual e que, dessa forma, não tiveram contato com o HPV. A imunização não é eficaz para mulheres já infectadas. “A vacina tem vocação para pacientes mais expostas ao vírus, principalmente antes da iniciação sexual. Mesmo assim, também pode ser indicada para mulheres sexualmente ativas e em alguns casos até para as já infectadas pelo vírus, pois dificilmente a paciente tem os quatro tipos de HPV que a vacina é capaz de prevenir” — explica Fernando Sansone, professor de Ginecologia da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC.

A vacina é recombinante e não utiliza nenhum vírus vivo. Criada a partir da cápsula viral, permite que haja imunização sem risco de contaminação. A administração é intramuscular e feita em três doses — a segunda dois meses depois da primeira e a terceira após seis meses. “As pesquisas não apontam a cobertura total da vacina, mas confirmam validade de pelo menos cinco anos. Ainda não se sabe se a imunização é definitiva após esse período ou se serão necessárias doses de reforço” — acrescenta o ginecologista.
Epidemia mundial — O HPV é a doença sexualmente transmissível mais comum na população feminina ativa. Uma em cada quatro mulheres no mundo está contaminada pelo vírus, transmitido principalmente pelo sexo sem proteção. A maioria das infecções é assintomática ou inaparente e de caráter transitório, combatida com eficiência pelo sistema imunológico. Estima-se que no Brasil até 80% das mulheres que iniciaram a atividade sexual estejam contaminadas com o HPV — responsável por mais de 95% dos casos de câncer de colo de útero. Apesar de menos de 1% das infectadas desenvolver o tumor, a doença mata pelo menos sete mil mulheres por ano no País e afeta 20 mil. “O HPV é um facilitador do câncer. Ao penetrar no tecido, pode provocar uma série de mudanças nas células, altera a divisão celular e ocasiona a proliferação descontrolada do tecido, caracterizando o tumor” — ilustra o professor da Medicina ABC Fernando Sansone.

O câncer de colo uterino é a segunda neoplasia mais comum em mulheres em todo o mundo, com a marca de 15% dos casos de tumores femininos registrados anualmente. Calcula-se que no Brasil a doença corresponda a 10% de todos os cânceres femininos, ocupando a terceira colocação entre os tumores malignos — atrás apenas dos tumores de pele e mama — e a quarta causa de morte por câncer em mulheres.

Não há previsão de custo para a vacina Gardasil no Brasil, mas no mercado norte-americano é vendida a 120 dólares (em torno de R$ 260) cada dose. O estudo da Gardasil envolveu 25 mil mulheres com idades entre 16 e 23 anos em 33 países. No Brasil, a pesquisa foi desenvolvida por vários centros, com testes clínicos em três mil mulheres. “Inicialmente a indicação é somente para pacientes de nove a 26 anos. Não existem relatos de contra-indicação para outras faixas etárias, porém o laboratório fabricante não garante eficácia, já que as pesquisas nessa situação não foram concluídas” — alerta a presidente da Associação Brasileira de Genitoscopia — Capítulo São Paulo e também professora de Ginecologia da Medicina ABC, Márcia Fuzaro Terra Cardial.

Dentre as vacinas em desenvolvimento, a Gardasil é a única liberada para comercialização. Está previsto ainda este ano o lançamento de produto semelhante sob patente do laboratório concorrente Glaxo Smith Kline. Bivalente, a vacina Cervarix deverá ser aplicada somente para prevenção do HPV de alto risco, tipos 16 e 18.

O HPV se aloja na pele e nas mucosas genitais. É transmitido pelo contato sexual — principal via de contágio —, não sexual (familiar ou hospitalar por meio de objetos contaminados) e materno-fetal. A infecção pelo vírus é mais presente entre jovens, com taxas que podem chegar a 46% em mulheres de 20 a 30 anos. Os números diminuem para 10% em mulheres com 40 anos e 5% nas acima de 55 anos. Hoje são mais de 100 tipos de HPV conhecidos. Os mais comuns são os denominados de baixo risco, que podem causar o condiloma genital (crista de galo) e o aparecimento de verrugas genitais, coceira, corrimento, sangramento anormal e dor durante a relação sexual. Já o HPV de alto risco é o principal responsável pelo aparecimento do câncer de colo de útero.

Tanto na mulher como no homem, a maneira mais simples de detecção da doença é pela observação de verrugas genitais a olho nu. Porém, apenas 1% dos pacientes infectados apresenta lesões visíveis. A grande maioria dos casos é subclínico, ou seja, assintomático e de maior dificuldade diagnóstica. As verrugas genitais são comumente encontradas na vulva, ânus, pênis ou em qualquer área de pele. O diagnóstico clínico é feito por meio de exames ginecológicos, urológicos e dermatológicos. Já o diagnóstico subclínico — utilizado para as lesões precursoras do câncer de colo de útero — é obtido através do exame preventivo de papanicolaou. Quando há suspeita, a confirmação pode ser feita por exames laboratoriais complementares, como a colposcopia, a biópsia e o teste de captura híbrida.

O tratamento na mulher depende da localização do HPV, que pode aparecer na forma de verruga ou mancha branca — detectada apenas por meio da colposcopia —, e se está relacionado ao desenvolvimento do câncer. “As opções terapêuticas vão desde a aplicação de cremes locais e cauterização elétrica ou com soluções até a vaporização, retirada da lesão com laser ou cirurgia de alta frequência” — exemplifica Márcia Fuzaro Terra Cardial, da Associação Brasileira de Genitoscopia e da Medicina ABC.

Existem fatores considerados de risco que em contato com o HPV potencializam o desenvolvimento do câncer de colo de útero, tais como tabagismo, atividade sexual antes dos 18 anos, múltiplos parceiros sexuais, falta de higiene, número elevado de gestações, uso de contraceptivos orais por tempo prolongado, infecção pelo HIV ou por outras doenças sexualmente transmissíveis, como a herpes.

Mesmo com a aprovação da vacina, a melhor arma contra o vírus e o câncer de colo de útero ainda é a prevenção com realização periódica de exames e utilização de preservativo nas relações sexuais. “A vacina não trará grandes repercussões de proteção ou diminuirá as estatísticas do câncer a curto prazo. É uma grande inovação e arma terapêutica de prevenção, mas só trará benefícios às gerações futuras, tendo em vista que é indicada principalmente às jovens que não iniciaram a vida sexual. Exames de rotina e sexo protegido continuam sendo as melhores formas de combater a proliferação do vírus e do câncer” — enfatiza o professor da Medicina ABC Fernando Sansone.

Quem compartilha da opinião é Márcia Fuzaro Terra Cardial, presidente da Associação Brasileira de Ginetoscopia e professora de Ginecologia da FMABC. “A chegada da vacina não muda em nada as medidas já estabelecidas para prevenção do câncer de colo uterino. A mulher deve continuar com os exames de rotina, como papanicolaou e colposcopia. Além disso, a novidade deve atingir todas as camadas da população, e não apenas pacientes privilegiadas, com maior poder aquisitivo. Assim como os exames preventivos, é preciso que a vacina chegue às mulheres com menor grau de instrução e informação e àquelas que não procuram o médico” — acrescenta.

O papanicolaou deve ser realizado periodicamente por todas as mulheres que já tiveram relação sexual, principalmente as na faixa etária entre 25 e 59 anos. Quarenta e oito horas antes do exame, não é recomendado que a paciente mantenha relações sexuais, use duchas durante a higiene íntima, medicamentos vaginais e anticoncepcionais locais. Além disso, o exame não deve ser feito no período menstrual, pois o sangue presente na região vaginal pode influenciar no resultado. Estudos comprovam que a realização periódica do papanicolaou reduz em até 70% a mortalidade pelo câncer de colo de útero na população de risco. Segundo dados do INCA (Instituto Nacional de Câncer), foram quase 20 mil novos casos da doença em 2006.

HPV também é comum no homem
A principal evidência da infecção pelo HPV no homem é o condiloma acuminado, caracterizado pelo aparecimento de verrugas na região genital e períneo. Entretanto, o vírus pode se manifestar de forma subclínica, aumentando o índice de transmissão pela maior dificuldade de detecção. “Os tipos de difícil diagnóstico têm como agravante o maior potencial oncogênico e geralmente são os responsáveis pelo desenvolvimento do câncer” — avisa Renato de Oliveira Branco, chefe do setor de urologia da Clínica Medcenter de São Bernardo.
Apesar de existirem poucos estudos sobre o vírus no público masculino, estima-se que 65% das infecções regridam espontaneamente, 14% tenham alto índice de recorrência e que 45% dos pacientes tratados permaneçam com o vírus sem sintomas aparentes. “As verrugas geralmente aparecem no pênis, na glande, no escroto, na uretra, nas nádegas, no ânus e nas regiões proximais. Podem ser únicas ou em grande quantidade e se não forem tratadas a tendência é que aumentem de tamanho” — alerta o chefe do departamento de urologia do Hospital Ipiranga e urologista do Instituto H. Ellis, Sidney Glina.
Segundo Renato Branco, da Medcenter, o HPV é infecção bastante comum no público masculino, mas que muitas vezes passava despercebida por falta de informação. “Com a ampla divulgação das pesquisas sobre a vacina contra o HPV, os homens passaram a se preocupar mais com a doença e a procura por esse atendimento praticamente duplicou nos consultórios” — calcula o médico de São Bernardo.Apesar de a vacina ser direcionada ao público feminino, o urologista da Medcenter acredita que em breve esse horizonte será ampliado.
"Já existe pesquisa acadêmica que comprova eficácia da vacina em homens, com administração nos mesmos critérios que para as mulheres. A novidade não está disponível para uso clínico, mas a tendência é que em pouco tempo o público masculino também possa ser beneficiado” — prevê o urologista Renato Branco.
O tratamento das verrugas no homem pode ser feito pela aplicação repetida de soluções químicas, cremes ou pela cauterização com bisturi elétrico ou laser. “As parceiras do paciente com diagnóstico de HPV devem ir ao ginecologista para avaliar se estão contaminadas, principalmente porque a doença está diretamente relacionada ao câncer de colo de útero” — reforça o urologista do Hospital Ipiranga e Instituto H. Ellis, Sidney Glina.
Após o tratamento, os pacientes são encaminhados para exame de peniscopia, cuja finalidade é a busca de lesões microscópicas para evitar que os condilomas retornem. O exame também é indicado para homens que não apresentam verrugas, mas cujas parceiras têm diagnóstico positivo de HPV.
Apesar de ser mais comum no público feminino, o HPV pode desencadear sérios problemas para o homem, como o condiloma gigante. “A prevenção, como em toda doença sexualmente transmissível, é feita com uso de preservativos. A lesão verrucosa do pênis conhecida por condiloma gigante ou condiloma de Buschke-Lowenstein tem comportamento bastante agressivo e pode destruir o pênis. A patologia é considerada um tipo de câncer e tem origem desconhecida, porém alguns trabalhos científicos associam a doença ao HPV” — explica Sidney Glina.

fonte: http://www.livremercado.com.br/Vida%20Capital/2007/Janeiro/01.htm acesso em 20/04/08

Um comentário:

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