quarta-feira, 30 de junho de 2010

Gattaca (1997)



Gattaca: A experiência Genética 

Ficha Técnica:
Título Original: Gattaca
Gênero: Ficção Científica
Tempo de Duração: 112 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1997
Site Oficial: www.spe.sony.com/Pictures/SonyMovies/Gattaca
Estúdio: Columbia Pictures Corporation / Jersey Films
Elenco:
Ethan Hawke (Vincent Freeman / Jerome Morrow)
Uma Thurman (Irene Cassini)
Jude Law (Jerome)
Gore Vidal (Diretor Josef)
Xander Berkeley (Lamar)
Jayne Brook (Marie)
Elias Koteas (Antonio)
Maya Rudolph (Enfermeira)
Una Damon (Enfermeira-chefe)
Blair Underwood (Geneticista)
Ernest Borgnine (Caesar)
Alan Arkin (Detetive Hugo)

Sinopse:Num futuro no qual os seres humanos são criados geneticamente em laboratórios, as pessoas concebidas biologicamente são consideradas "inválidas". Vincent Freeman (Ethan Hawke), um "inválido", consegue um lugar de destaque em corporação, escondendo sua verdadeira origem. Mas um misterioso caso de assassinato pode expôr seu passado.

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Gattaca é o nome da base de treinamentos para vôos espaciais. Repare que a palavra é formada pelas letras G, A, T e C que também são as iniciais das bases nitrogenadas que formam o genoma. Há também outras referências como a escada abaixo em forma de DNA.




GATTACA – RESENHA RESUMIDA

A recente divulgação do final dos trabalhos de seqüenciamento do genoma humano trouxe um importante questionamento com relação às consequências deste novo conhecimento. Ao mesmo tempo que gera a esperança de cura de muitas doenças de origem genética, gera também muitas especulações - algumas gratuitas, outras não - sobre a possibilidade de um uso indesejável do conhecimento genético. Dentro desta última perspectiva, o filme Gattaca, de Andrew Niccol é uma interessante reflexão sobre os caminhos a que a engenharia genética pode levar e os impactos que esta tecnologia - e a ciência de um modo geral -- pode ter na sociedade.
Passado em um tempo futuro, Gattaca mostra uma sociedade em que as corporações tornaram-se mais poderosas que o Estado e em que a manipulação genética criou uma nova espécie de preconceito e hierarquia racial, legitimada pela ciência. Aos pais que desejam ter filhos é dada a oportunidade de manipular a interação entre seus DNAs de modo que gerem filhos com a melhor combinação de qualidades genéticas possível. Este procedimento acaba criando duas categorias diferentes de pessoas: os Válidos, frutos desta combinação genética planejada, que são quase super-homens, com raras doenças genéticas; e os Inválidos, frutos de nossa interação sexual usual. Aos Válidos são oferecidos os melhores empregos e as melhores oportunidades enquanto que os Inválidos chegam a ser impedidos de frequentar determinados lugares.
A história do filme é a de dois irmãos, um concebido da maneira natural e o outro manipulado geneticamente. O Inválido, interpretado por Ethan Hawke, tem várias doenças genéticas e, ao ter seu DNA examinado quando nasce, já tem uma data prevista para sua morte. Contudo, o garoto sonha em viajar ao espaço - emprego impensável para alguém com seus problemas - e vai buscar todas as maneiras possíveis para superar suas limitações ao mesmo tempo em que tem que esconder de todos que é um Inválido.
Com roteiro e direção de Andrew Niccol, que também foi roteirista de O Show de Truman, Gattaca é um ensaio sobre o que pode ser uma sociedade em que o destino das pessoas esteja pré-determinado cientificamente, em que não haja o mínimo espaço para a ação do indivíduo na construção de seu próprio futuro. Também é uma reflexão sobre como a ciência pode ser usada para legitimar e, no caso, criar uma hierarquia social, principalmente se feita sem crítica e controle da sociedade.
Gattaca - A Experiência Genética (Gattaca). EUA, 1997. Dir. Andrew Niccol. Com Ethan Hawke, Uma Thurman, Jude Law, Loren Dean, Alan Arkin, Gore Vidal e Ernest Borgnine.


“Gattaca - A Experiência Genética”
(Gattaca),
de Andrew Niccol
(1997)

Eixo Temático
 
O desenvolvimento das técnicas de manipulação genética decorrem do desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social e da redução das barreiras naturais. É claro que, nas condições de uma sociedade de classes, onde predomina a divisão hierárquica do trabalho e a propriedade privada, tal avanço da ciência genética se traduz em possibilidades concretas de incremento do controle social estranhado. Neste caso, o capital tende a se apropriar do desenvolvimento das forças produtivas sociais para aprofundar seu controle de classe. Estamos diante de uma visceral contradição entre as imensas potencilaidades de desenvolvimento humano-genérico e da plena socialização da sociedade humana, e a aguda vigência de determinações de controle social estranhado e de exploração de classe. Ao lado do admirável mundo novo, subsiste velhos valores estranhados e sociabilidades corrompidas pela lógica do capital.
Temas-chave: técnica e tecnologia, capital e processo civilizatório, ecossistema social e contradições do capital, identidade e memória social.
Filmes relacionados: “Blade Runner”, de Ridley Scott; “Matrix”, dos Irmãos Wachowski; “Metropólis”, de Fritz Lang; “2001-Uma Odisséia no Espaço”, de Stanley Kubrick; “IA - Inteligência Artificial”, de Steven Spielberg; “Eu, Robô”, de Alex Proyas.

Análise do Filme
Annette Kuhn, em seu livro Alien Zone: Cultural Theory and Contemporary Science Fiction Cinema (Verso, 1990), observa que uma das características do cinema de ficção-científica é a sua intertextualidade. Ou seja, o gênero Science Fiction (SF) tende a se confundir com outros gêneros fílmicos, como, por exemplo, o Policial, a Comédia ou Horror. O que poderia significar essa intertextualidade do gênero Science Fiction? Ela é característica peculiar de um gênero fílmico (o de ficção-científica) que constitui sua trama narrativa a partir de uma determinada racionalidade (a racionalidade tecnológica), que é a própria racionalidade da sociedade moderna. Nesse caso, como a tecnologia perpassa os mais diversos aspectos da vida cotidiana moderna, ela não poderia deixar de estar no centro estruturante da trama filmica, principalmente em se tratando de um filme SF. O que acontece é que, no caso do filme SF, a trama filmica se constitui em função de uma determinada racionalidade tecnológica. Na verdade, a técnica e a tecnologia pulam adiante do argumento dramático, estruturando-o, sem dissolver sua linha argumentativa (que incorpora outras textualidades).

O filme Gattaca – A Experiência Genética, de Andrew Niccol (1997) é um caso exemplar. Apesar de ser um filme de ficção-científica deixa claro sua intertextualidade. A partir de um certo momento, Gattaca parece se tornar um filme policial ou de suspense quando a trama narrativa se desloca para a busca do assassino de um dos diretores da corporação Gattaca. No desenrolar da trama, todo o suspense se concentra no personagem Vincent Freeman, um Inválido condenado pelo seu código genético a tarefas degradantes (Freeman significa, literalmente, “homem livre”).

A sociedade de Gattaca está dividida em duas “classes sociais”, os Válidos, os “filhos da Ciência”, produtos da engenharia genética e da eugenia social, e os Inválidos, os “filhos de Deus”, submetidos ao acaso da Natureza e às impurezas genéticas. Gattaca retrata uma sociedade de classe cuja técnica de manipulação do código genético tornou-se prática cotidiana de controle social. Vincent é um jovem ambicioso, que almeja ir além do seu destino genético e decide assumir a personalidade de Jerome Morrow, um Válido que, em virtude de um acidente, ficou paralítico. Utilizando os serviços clandestinos de um “pirata genético”, Vincent clona os registros genéticos de Jerome. Sua ambição é driblar as restrições de classe e se integrar na elite intelectual e moral de Gattaca e realizar seu maior sonho: ir para o planeta Titã, satélite de Júpiter (seria uma alegoria de fuga do sistema do capital, de agudo cariz regressivo, tal como um "retorno ao útero materno"?).

No final, a trama de Gattaca sugere um drama familiar, no estilo de East of Eden, de Elia Kazan (com James Dean), quando Vincent encontra em Gattaca, seu irmão Anton, que descobre a verdadeira personalidade de Jerome e ameaça denuncia-lo. Torna-se claro, mais uma vez, a rivalidade entre irmãos (que é, no filme, a transfiguração de uma rivalidade de classe, cabe salientar): um, “filho de Deus”, nascido do acaso da Natureza, outro, produto de um planejamento genético quase perfeito.


O que se observa é que o tema da técnica de manipulação genética perpassa todo o drama policial (e familiar) de Gattaca. Apesar do mais alto controle social garantido pelo registro genético, a espécie humana continua a mesma: dividida em classes sociais e se utilizando de subterfúgios escusos e clandestinos para atingir seus interesses egoístas. Ao lado dos mais sofisticados recursos de manipulação genética, que hoje estão se tornando realidade pelos avanços da engenharia genética e da biologia molecular, assistimos a um jogo de ambição e fraude, seja a de Vincent para ter acesso à corporação Gattaca e realizar seu sonho de tornar-se astronauta; ou do diretor Josef, de Gattaca (representado pelo escritor Gore Vidal, num papel especial), que assassina outro diretor num jogo de poder.

Numa sociedade de controle social quase-absoluto, os “de baixo” apelam para fraudes sutis, clandestinas, como forma de resistência individual ao totalitarismo do destino genético. Nesse ambiente de resistência individual, pode-se perceber certa solidariedade entre os “de baixo”, como a atitude condescendente do faxineiro Caesar (representado por Ernest Borgnine) ou pelo médico Lamar, que aparentam certa simpatia pelos ideais transgressores de Vincent/Jerome.

O filme se passa na corporação Gattaca, mas poderia se passar num Campo de Concentração ou numa sociedade totalitária qualquer. E Vincent representa o herói americano – um anti-herói ao estilo de Charles Chaplin? - em sua luta contra o sistema, agora representado pelos imperativos categóricos da eugenia social. A ambição individualista de Vincent é que conduz a trama. A sua luta é contra o destino de classe – ou casta? - agora demarcado, graças ao avanço da técnica, pelo estigma do destino genético. É um destino genético produzido pelo homem, mas que, na medida em que é produto de um afastamento das barreiras naturais – o domínio do código da vida - numa sociedade de classe, tende a tornar-se uma “segunda natureza”. É contra essa “segunda natureza”, produzida pela manipulação técnica, que Vincent se revolta e busca uma saída individual.

Na ótica do Cinema de Hollywood, as saídas são individuais, apesar do drama possuir, antes de tudo, conteúdo de classe. A sociedade do capital, baseada na divisão hierárquica do trabalho, dividida em classe, com o desenvolvimento da técnica, tende a incorporar novas determinações de poder e de controle cada vez mais rígidas e com um lastro natural (pode-se, nesse caso, considerar mesmo uma divisão de classe, no sentido clássico, ou sim, uma divisão em casta ou de acordo com o sangue, bem ao estilo das sociedades tradicionais?).

Em Gattaca, os proletários seriam os Inválidos, os Condenados da Terra. Apesar disso, a atitude arrogante do verdadeiro Jerome diante de um policial que o interroga, numa certa passagem do filme, sugere que, mesmo entre os Válidos existe uma certa hierarquia de classe - a não ser que os policiais, guardiães da Ordem genético-fascista da sociedade de Gattaca, sejam da classe dos Inválidos. Não podemos culpar a técnica em si, mas a forma social que a desenvolve e se apropria dela.

Gattaca sugere o dualismo Acaso (ligado a “primeira natureza”) versus Planejamento (imperativo da “segunda natureza”). Pode-se apreender no filme, certa nostalgia de um passado distante em que um fio de cabelo era apenas um fio de cabelo (ou uma mera lembrança afetiva), e não um registro genético capaz de denunciar a identidade de classe das pessoas, através de exame de DNA. A luta de Vincent não é apenas contra o Sistema de Gattaca, mas contra si mesmo, contra seus fluidos e restos corporais capazes de denúncia-lo como Inválido. É o estranhamento assumindo proporções abismais, atingindo o próprio ser orgânico do homem, objeto de uma rede controlativa, de uma “grade”, talvez uma nova forma de ciberespaço, capaz de aprofundar o controle social do capital.

Mas apesar do clima totalitário, o filme expõe as falhas irremediáveis de Gattaca e do seu sistema de controle. Contra a técnica que supostamente desumaniza o homem, na verdade, já desumanizado pelo capital, o diretor e roteirista Andrew Niccol sugere uma “natureza humana” recalcitrante às imposições sistêmicas.
A perspectiva do filme Gattaca é tipicamente americana, mas o final não é propriamente um final feliz. O destino trágico do verdadeiro Jerome,que comete suicido se incinerando num auto-forno no exato momento em que Vincent parte para Titã, não deixa de ser um protesto contra a sociedade de Gattaca, que exclui como lixo humano todos os Inválidos, agora num sentido amplo, sejam eles de nascimento, sejam eles por incapacidade adquirida. E o sonho de Vincent (ir a lua Titã), não deixa de ser singelo e desesperador. É como se o único herói do filme busca-se lá fora o sentido da vida. Seria a sociedade de Gattaca uma “gaiola de ferro”, no sentido weberiano, ou seja, uma alegoria da sociedade (pós)-moderna, uma sociedade de classe em que só restaria, para as pessoas, adaptar-se, se auto-incinerar ou então viajar para Titã (se conseguir, é claro, apresentar-se como um Válido) ?

Fonte: http://www.telacritica.org/gattaca.htm acesso em 28/11/2007
 

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