quinta-feira, 17 de junho de 2010

Epidemiologia

Conceito de Saúde
Diante do conceito trazido pela Constituição de que "saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação", abandonou-se um sistema que apenas considerava a saúde pública como dever do Estado no sentido de coibir ou evitar a propagação de doenças que colocavam em risco a saúde da coletividade [03]e assumiu-se que o dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais, além da prestação de serviços públicos de promoção, prevenção e recuperação. A visão epidemiológica da questão saúde-doença, que privilegia o estudo de fatores sociais, ambientais, econômicos, educacionais que podem gerar a enfermidade, passou a integrar o direito à saúde.
Esse novo conceito de saúde considera as suas determinantes e condicionantes (alimentação, moradia, saneamento, meio ambiente, renda, trabalho, educação, transporte etc.), e impõe aos órgãos que compõem o Sistema Único de Saúde o dever de identificar esses fatos sociais e ambientais e ao Governo o de formular políticas públicas condizentes com a elevação do modo de vida da população.
Assim, não se pode mais considerar a saúde de forma isolada das condições que cercam o indivíduo e a coletividade. Falar, hoje, em saúde sem levar em conta o modo como o homem se relaciona com o seu meio social e ambiental é voltar à época em que a doença era um fenômeno meramente biológico, desprovido de qualquer outra interferência que não fosse tão somente o homem e seu corpo.
Fonte: http://jus2.uol.com.br

A DOENÇA
Na abordagem contemporânea do adoecer destaca-se a supremacia da ordem biológica, que conformou a constituição da medicina moderna. Na organização das práticas, na formação dos recursos humanos, há pouco espaço para a consideração das dimensões psíquicas e sociais do adoecer. Biologicismo, naturalização, objetivação, são termos utilizados na avaliação crítica sobre a redução que o enfoque hegemônico da biologia produziu na configuração do campo da saúde.
A doença na sociedade ocidental é compreendida mediante o conceito de organismo, formulado com base em uma concepção mecanicista do corpo, que impregnou a cosmovisão norteadora da racionalidade cientifica desde o seu nascimento1. O conceito moderno de doença constituiu-se por meio da análise da estrutura material do corpo, estudada pela anatomopatologia.
CARTANA (1997, p.234) fortalece o conceito de doença enquanto, fenômeno social e cultural, onde atuam fatores biológicos e ambientais, sociais, evidenciados através de mudanças transitórias ou permanentes na complexa estrutura das pessoas em comunidades.
2 categorias de doenças:
Doença Infecciosa – manifestação resultante de uma infecção;
Doença não infecciosa – todas aquelas que não resultarem de infecção: doença coronariana, diabetes e outras – chamadas também de doenças não transmissíveis.
Conceitos Básicos

o Doença crônica: doenças que desenrolam a longo prazo
o Doença aguda: são de curta duração
o Infecção: penetração e desenvolvimento ou multiplicação de um agente infeccioso no organismo
o Doença contagiosa: doenças infecciosas cujos agentes etiológicos atingem os sadios através do contato direto desses com os indivíduos infectados. Ex: sarampo
o Doença transmissível: qualquer doença causada por um agente infeccioso, que se manifesta pela transmissão deste agente, de uma pessoa ou animal infectados ou de um reservatório a um hospedeiro suscetível.
o Doenças Quarentenáveis: podem levar a restrição de atividades aos comunicantes, durante o período máximo de incubação, a fim de evitar a propagação da doença. Atualmente uma medida em desuso.
o Doenças de isolamento: exigem a segregação dos indivíduos doentes durante o período de transmissibilidade da doença. Ex: tuberculose – isolamento respiratório – uso de máscaras; cólera – isolamento entérico – luva para lidar com as fezes.
o Período de Transmissibilidade: período durante o qual o agente infeccioso pode ser transferido de uma pessoa infectada a outra.
o Infectividade: capacidade que tem de certos organismos de penetrar e de se desenvolver ou multiplicar-se no hospedeiro, ocasionando infecção.
o Patogenicidade: é a qualidade que tem o agente infeccioso de, uma vez instalado no organismo do homem, produzir sintomas em maior ou menor proporção dentre os hospedeiros infectados.
o Virulência: é a capacidade de um bioagente produzir casos graves ou fatais
o Dose infectante: é a quantidade do agente etiológico necessária para iniciar uma infecção
o Poder invasivo: capacidade que tem o parasita de se difundir, através de tecidos, órgãos e sistemas do hospedeiro.
o Imunogenicidade: também chamado de poder imunogênico, é a capacidade que tem o bioagente para induzir imunidade no hospedeiro


Estudo da Doenças Transmissíveis


Transmissão: transmitir significa levar ou fazer passar algo de um ponto a outro.
Veículos de transmissão:veículos são objetos ou materiais contaminados que sirvam de meio mecânico, auxiliando um agente infeccioso a ser transportado e introduzido em um hospedeiro suscetível. São veículos: a água, leite, outros alimentos e objetos contaminados. Dentre os objetos citam-se peças de vestuário, roupas de cama, utensílios de cozinha, instrumentos cirúrgicos e fômites (obj. de uso do doente), e mais...partículas de solo, poeira, ar, produtos biológicos, sangue para transfusão, soro e plasma.
Exemplos de principais veículos de Doenças Transmissíveis
Alimentos: Teníase – Taenia solium, Taenia saginata
Fômites – Infecções hospitalares. Ex. candida, Staphylococcus
Água utilizada como bebida – cólera, hepatite A, poliomielite, Salmoneloses, Shigeloses
Ar atmosférico – caxumba, tuberculose, varicela, sarampo, gripe, rúbeola
Sangue para transfusão – AIDS, sífilis, doença de Chagas


Mecanismos de Eliminação

Saída do bioagente patológico pode ser por um dos mecanismos
Por eliminação natural: processo pelo qual um organismo infectado expele para o exterior, por ação natural. Ex: saliva, sêmem, secreções vaginais, mãe para feto.
Por extração mecânica: processo pelo qual bioagentes patogênicos são retirados do seu hospedeiro. Ex: seringa, mosquitos.
Por morte de indivíduos infectados: só pode ocorrer com a morte do hospedeiro infectado e com o uso, como alimento, de parte do seu corpo. Ex: Taenia saginata e solium veiculadas no músculo de porco e gado abatidos.


Entrada em um novo Hospedeiro

O bioagente terá acesso ao meio interno do indivíduo infectável vindo de uma das seguintes origens:
Diretamente de outro indivíduo da mesma espécie interiormente infectado. Ex: contato sexual
Diretamente da mãe para o feto por via placentária. Ex: doença de chagas, rubéola.
Diretamente de indivíduos de outra espécie igualmente suscetível. Ex: o vírus rábico – passado ao homem pela mordida de cão raivoso.
Introduzido por ação ou com a contribuição de um vetor biológico infectado. Ex: o agente da peste bubônica Yersinia pestis, é levado a circulação do novo hospedeiro por picada de pulgas.
Veiculado por algum elemento não vivo, seja físico ou biológico. Ex: mãos contaminadas, alimentos, instrumentos contaminados.


Mecanismos de Penetração

a) Ingestão: água, alimentos em geral, mãos e objetos quando levados a boca.
b) Inalação através das vias respiratórias. Ex: gripe, sarampo.
c) Mãe para feto por via transplacentária.
d) Penetração através das mucosas. Ex: olhos, boca.
e) Penetração através da pele. Ex: feridas cirúrgicas ferimentos acidentais, queimaduras podem servir de porta de entrada para agentes infecciosos.
f) Deposição sobre a pele seguida de propagação localizada. Ex: fungos, dermatites, acesso ao couro cabeludo, unhas, pele, por contato direto com indivíduos infectados, ou indiretamente por contado com objetos, pisos úmidos, instrumentos de barbearia e manicure.


g) Penetração ativa por alguma forma de sobrevivência do bioagente patogênico. Ex: indivíduos infectados com Sarcoptes scabiei, agente da sarna, entram em contato com o suscetível.
h) Introdução no organismo com auxílio de objetos e instrumentos. Ex: acesso por orifícios naturais ou através de perfurações cirúrgicas ou acidentais. Transmissão por transfusão de sangue, pois a penetração do bioagente se da por intrusão, no corpo, com auxílio de objeto mecânico
Introdução em tecido muscular ou na corrente sangüínea, por picadas de inseto ou por mordedura de animais.
j) Ingestão com tecido animal utilizado como alimento. Ex: teníase


Transmissão Direta Imediata

0 bioagente patogênico, sem passagem pelo meio ambiente, irá até o meio interno do individuo, onde se desenvolve ou se multiplica, estabelecendo a infecção.
Ex: DST, gonorréia, sífilis, herpes genital, AIDS, candidose, hepatite B.


Transmissão Direta Mediata

Quando o substrato vital, eliminado por um individuo infectado, situado nas proximidades de um suscetível, com passagem reduzida pelo meio ambiente, até o meio interno do individuo suscetível, onde se desenvolve ou multiplica, estabelecendo a infecção.



3 possibilidades de veiculação do bioagente no contato mediato

1. Por meio das mãos
2. Por meio de fômites: chupeta - criança com gripe coloca-a na boca de outra criança
3. Por secreções oronasais: falar, tossir, espirrar (sarampo, tuberculose, hanseníase)

Transmissão Indireta
Bioagentes patogênicos são eliminados e necessitam de um veículo ou hospedeiro intermediário, para percorrer a distância entre o individuo infectado e o suscetível.
Ex: Esquistossomose mansônica
Doente elimina ovos das fezes nas proximidades de água e que tenha caramujos das espécies B. glabrata, B. straminea ou B. tenagophila, para que neles penetrem para servir de intermediário do individuo suscetível. Outro ex: Doença de Chagas

Doenças Crônicas Não – Transmissíveis (DCNT)
Compõe – se de 4 elementos:

Biologia Humana
Estilo de Vida
Ambiente
Organização do Sistema de Atenção a Saúde


Biologia Humana - Compreende características do individuo, marcadores/fatores de risco – idade, sexo, raça, herança genética, processo natural do envelhecimento.
Estilo de Vida - Inclui hábitos e comportamentos adquiridos social ou culturalmente – tabagismo, alcoolismo, preferências dietéticas (sódio, quantidade de calorias), medicações, drogas, sedentarismo, não utilizar equipamentos de proteção – EPI, decisão pessoal de aderir a tratamentos e medidas preventivas – individuo tem controle sobre seus hábitos e atitudes prejudiciais a saúde.
Ambiente - Eventos externos ao corpo – dividido em 3 dimensões: física, social e psicológica.
Física – características do relevo, hidrografia, clima, etc. – poluentes ambientais do ar, água e do solo, pesticidas.
Social – nível sócio econômico, escolaridade.
Psicológica – estresse e as tensões sociais



CONDICAO AGUDA E CRONICA E FATORES RELACIONADOS
FATORES RELACIONADOS AGUDA (TEMPORÁRIA) CRÔNICA (MAIOR QUE TRÊS MESES)
Tempo Limitado Permanente
Prognóstico Geralmente bom Incerto
Estilo de vida Algumas modificações Total modificação
Gastos financeiros Algumas vezes limitados Contínuos
Cuidados familiares Pouca dependência Maior ou menor dependência
Necessidade de cuidados Fase incial Continuo
Uso de recursos tecnológicos Fase inicial Às vezes contínuos
Dor Fase inicial Continua
Isolamento social Fase inicial Alguns casos contínuo
Impacto psicológico Fase inicial Isolamento social/sensação de perda/aflição/tristeza
Aspecto espiritual Pessoal Aproximação maior da religião
Funções sociais Pouca mudança Dificuldade de readaptação
Estratégias de enfretamento Facilidade de enfretamento Dificuldades de elaborar estratégias de enfretamento ou não elabora
Atividades cotidianas Interrupção curta Necessidade continua de adaptação
Adaptado de Murrow, E.J.; Oglesby,F.M. Orthopaedic Nursing, v.15, n.5,1996
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-11691999000500018&script=sci_arttext

Exemplos de doenças e agravos quanto à duração e etiologia:
Etiologia Duração
Agudas Crônicas
Infecciosas Doenças infecciosas agudas: tétano, meningite meningocócica, difteria, sarampo, gripe Doenças infecciosa crônicas: tuberculose, hanseníase, doença de Chagas
Não-infecciosas Doença não-infecciosa aguda: envenenamento por picada de cobra Doenças não-infecciosas crônicas: diabetes, doença coronariana, cirrose alcoólica


DCNT

Ausência de participação ou participação polêmica/duvidosa de microorganismo entre os determinantes;
Causa necessária desconhecida;
Curso clínico em geral lento, prolongado e permanente;
Especificidade de causa desconhecida;
Evolução para graus variados de incapacidade ou para a morte;
Historia natural prolongada;
Interação de fatores etiológicos conhecidos;
Interação de fatores etiológicos desconhecidos;
Lesões celulares irreversíveis;
Longo período de latência;
Longo período assintomático;
Multiplicidade de fatores de risco complexos;
Manifestações clinicas com períodos de remissão e de exacerbação;



DCNT com possível participação de microorganismos em suas determinações
Doenças Agentes
Carcinoma cervicouterino Papilomavirus, Herpes vírus tipo II, HTLV-I
Carcinoma do reto Herpes vírus tipo II (em aidéticos)
Leucemias e linfomas de células T HTLV-I
Leucemias de células cabeludas HTLV-II
Carcinoma primário do fígado Vírus da hepatite B
Carcinoma da língua Herpes vírus tipo I (em aidéticos)
Sarcoma de Kaposi CMV (em aidéticos)
Carcinoma de rinofaringe Vírus de Epstein-Barr
Alguns tipos de linfomas/Burkitt Vírus de Epstein-Barr
Carcinoma de estômago Helicobacter pylori
Colangiocarcinoma Clonorchis sinensis
Doença de Hodgkin entre jovens Vírus?
Diabetes mellitus insulino-dependente Coxsackie vírus B 1 a 6, Echovirus, Herpes vírus 6, vírus da parotidite, da rubéola, CMV, H. pylori
Paraparesia espástica tropical HTLV-I
Esclerose múltipla Vírus?
Doença arterial coronariana e doenças cerebrovasculares CMV, Clamydia peumoniae, H. pylori
Fonte: Roquayrol, M.Z., Filho, N.A. Epidemiologia & Saúde. 5ª. Edição, Rio de Janeiro, MEDSI, 1999.

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